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  • 10 de setembro de 2019

    Tratamento da lepra: cirurgia plástica pode auxiliar no tratamento da lepra?

    Apesar de a hanseníase ser uma doença tratável, ela pode trazer sequelas ao paciente que demora a iniciar o tratamento. Nesse caso, cirurgias reparadoras corrigem a forma e a função perturbada.

    O Brasil é o segundo país com mais casos de hanseníase, atrás somente da Índia. Apesar de recorrente, a doença – popularmente conhecida como lepra – é cercada de tabus e desconhecida por grande parte da população. Para conscientizar e prevenir a enfermidade, o Ministério da Saúde criou o Janeiro Roxo, campanha que arremata com o Dia Internacional do hanseniano, comemorado no dia 29 de janeiro.

    Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), só em 2017 foram reportados mais de 26 mil casos da doença no Brasil. A hanseníase é uma doença infecciosa transmitida pela tosse ou espirro de uma pessoa contaminada. “A doença é altamente contagiosa, podendo ser transmitida até mesmo por meio do perdigoto, mas, depois que a pessoa toma a primeira dose da medicação ela deixa de ser transmissora da hanseníase”, explica a dermatologista Dra. Lúcia Miranda.

    Os sintomas incluem lesões, alteração da sensibilidade ou comprometimento dos nervos periféricos. Em um grau avançado, pode levar a incapacidades físicas permanentes, principalmente nas mãos, olhos e pés. “O principal meio de manifestação da doença é pelas lesões na pele e sintomas neurológicos como dormência e diminuição da força”, reforça Dra. Lúcia. Por isso, um dermatologista deve ser procurado assim que as manifestações cutâneas surgirem, para evitar complicações.

    O Ministério da Saúde alerta que quanto antes diagnosticar a hanseníase e se medicar devidamente, menor a chance de sequelas. O tratamento – ofertado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – inclui antibióticos em poliquimioterapia podendo durar de seis meses a dois anos, dependendo do estágio da doença. “O médico deve ser procurado ao menor sinal da doença, para que o tratamento seja iniciado o quanto antes, evitando, assim, o contágio”, ressalta Dra. Lúcia.

    “O médico deve ser procurado ao menor sinal da doença, para que o tratamento seja iniciado o quanto antes, evitando, assim, o contágio”

    Dra. Lúcia Miranda

    Doença bíblica

    Considerada a doença mais antiga da humanidade, a hanseníase ainda está cercada de muito preconceito. “Essa é uma doença bíblica. Naquela época era conhecida como lepra e, apesar de muitos acharem que ela foi extinta, ainda é um problema de saúde pública no Brasil”, aponta a dermatologista. Na verdade, com o tempo, o nome mudou de lepra para hanseníase.

    Por ser uma doença tropical, o Brasil está no ranking de países com mais incidência no mundo. Sozinho, o Maranhão registrou mais casos de hanseníase do que a América Latina inteira. O estado teve 2.997 novos casos da doença durante o ano de 2019, enquanto, em 2018, foram 3.105. “A hanseníase tem cura, o problema é que ela é muito negligenciada. Por isso a importância do Janeiro Roxo, para melhorar o controle da doença”, frisou a dermatologista.

    Reabilitação

    Mesmo após a cura, a hanseníase pode deixar sequelas e deformações nas áreas afetadas. Para tanto, dependendo da gravidade, é necessário recorrer à cirurgias que devolvam o formato e a funcionalidade da área. O cirurgião plástico, dr. Bruno Luitgards, explica que realizar o procedimento plástico após se recuperar da doença pode trazer inúmeros benefícios: corrige a deformidade, resgata a função perturbada e aumenta a autoestima do paciente.

    “Após a cura da hanseníase é possível fazer cirurgias reconstrutivas que ajudam o paciente na recuperação física e psicológica. É o caso da correção ocular e do lóbulo da orelha – que costuma aumentar em pessoas com hanseníase -, da reconstrução nasal e das cirurgias de mãos e pés”, comenta o Dr. Luitgards.

    Cirurgias delicadas podem ser necessárias mesmo durante o tratamento. “Na urgência, muitas vezes são necessárias correções de lagoftalmos, desbridamento de úlceras ou drenagem de abcessos. Nesta fase, o paciente pode ter doença ativa e isso pode desencadear piora de alguns sintomas, por isso o ideal é realizar o tratamento cirúrgico apenas após a cura”, alerta o cirurgião plástico.